Saturday, July 9, 2011

CÉLULAS TRONCO E PARKINSON - NOVAS POSSIBILIDADES

DERRICK ROSSI
ENTREVISTA - REVISTA VEJA EDIÇÃO 2224
1ª PARTE
Um avanço fascinante
O cientista americano explica como gerou células-tronco em laboratório, um dos feitos mais promissores no combate a doenças degenerativas como Parkinson e Alzheimer
Quem entra no laboratório de pesquisa do biólogo Derrick Rossi, na Universidade Harvard, não encontra nada de especial. São bancadas com pipetas e tubos de ensaio, prateleiras atulhadas de frascos de reagentes. Ali, trabalham nove pessoas - seis com pós-doutorado, dois técnicos e um estudante, com orçamento anual de 1 milhão de dólares. Nesse ambiente austero, Rossi conseguiu um feito espetacular: criou um novo método, mais eficiente, menos perigoso e menos invasivo, de reprogramar células adultas, fazendo-as voltar a um estado infantil, quando têm a capacidade de se transformar em qualquer tecido do organismo humano. E o caminho mais promissor para a cura de doenças como diabetes, Parkinson e Alzheimer. Em seu minúsculo e despojado escritório, ele deu a seguinte entrevista a VEJA.
O método com que o senhor gerou células-tronco de pluripotência induzida animou os cientistas, mas, antes de mais nada, o que são células-tronco de pluripotência induzida?
Essas células são conhecidas como iPS (a sigla vem do nome em inglês: induced pluripotent stem cells) e foram geradas pela primeira vez em laboratório pelo professor Shinya Yamanaka, da Universidade Kyoto, no Japão. Em 2007, ele conseguiu pegar uma célula adulta comum e introduzir nela quatro fatores, fazendo com que ela voltasse ao estado pluripotente. O estado pluripotente é uma fase inicial da vida da célula, quando ela ainda tem a capacidade de se diferenciar em qualquer um dos diversos tecidos do organismo humano, como acontece com as células-tronco embrionárias. É o feito mais sensacional que já vi na biologia celular em toda a minha carreira. Mesmo hoje, revendo a pesquisa do professor Yamanaka, fico impressionado com o volume de conhecimento biológico que envolveu. É um trabalho brilhante.
Qual a diferença entre as células pluripotentes do professor Yamanaka e as suas?
A diferença central está no método de reprogramar as células. Nosso método é mais eficiente. A taxa de sucesso de reprogramação celular do método de Yamanaka é de 0,1%. O nosso é pelo menos 100 vezes mais eficiente. Segundo ponto: nos experimentos do professor Yamanaka, a reprogramação usa um vírus como, digamos, meio de transporte. O vírus transporta os fatores para dentro da célula, alterando o seu genoma. O problema é que o vírus é um vetor indesejável, perigoso. Ele pode ativar ou desativar funções da célula, o que acaba resultando em doenças. No nosso caso, em vez de vírus, usamos um RNA sintético, que chega à célula de modo, por assim dizer, invisível. Por ser invisível, o RNA sintético não provoca nenhuma resposta antiviral a célula e, melhor ainda, também não altera o genoma da célula.
Qual a vantagem de evitar uma resposta antiviral e não alterar o genoma da célula?
A vantagem está na segurança e no controle. O uso de vírus e a mudança do genoma são um risco. Podem levar as células a um desenvolvimento descontrolado, desordenado, resultando em câncer, o que inviabiliza seu uso em pacientes. No nosso método, isso não existe. O genoma da célula permanece inalterado. Quando nossa pesquisa foi publicada, a imprensa americana deu muita atenção a esses aspectos, que são realmente relevantes, mas acabou esquecendo um dado que, a meu ver, é ainda mais importante. Além de gerarmos iPS mais seguras, verificamos se as nossas células pluripotentes se transformavam nas células que quiséssemos. Em outras palavras, testamos se era possível direcionar a diferenciação das células pluriporentes para a linhagem que desejássemos. Fizemos a experiência induzindo a criação de células musculares, e deu certo. Criamos músculo.
Mas já houve experiências de criação de músculo em laboratório. Por que o senhor considera isso tão importante na sua pesquisa?
Criamos músculo como prova de conceito, para verificar em termos práticos se nossas células iPS tinham mesmo o potencial que esperávamos. É razoavelmente simples criar músculo em laboratório porque envolve apenas um fator, e testamos nossa experiência com músculo exatamente por ser simples. O conceito se comprovou. Isso é importante porque fechamos todo um ciclo: de uma célula adulta - no nosso caso, uma célula de pele - criamos uma célula pluripotente que direcionamos para que se transformasse em uma célula muscular, sem a presença de vírus e sem alteração no genoma. Agora, estamos trabalhando na geração de tipos mais complexos de célula. Junto com Douglas Melton, diretor do instituto de células-tronco de Harvard, tentamos criar células beta do pâncreas, que produzem e liberam insulina. No meu laboratório, estamos trabalhando para fazer células-tronco hemaropoiéticas, que dão origem ao sangue. Em parceria com outros laboratórios de pesquisa, estamos tentando criar cardiomiócitos, que são fibras do músculo cardíaco.
Uma das promessas do seu trabalho é que, gerando células pluripotentes a partir de células do próprio paciente, não haveria risco de rejeição. Em maio passado, cientistas da Universidade de San Diego divulgaram um estudo mostrando que a rejeição acontece do mesmo modo. O que o senhor achou desse trabalho?
Li esse estudo, mas acho que tem sérios problemas. Primeiro, a experiência foi feita em camundongos, de modo que não se pode simplesmente transferir suas conclusões para seres humanos. Segundo, eles fizeram algumas escolhas no estudo que considero cientificamente pobres e que, a meu ver, comprometem as conclusões. Não estou dizendo que não há o que estudar sobre as iPS que conseguimos criar. Longe disso. Há muito estudo a fazer. Há experiências, por exemplo, sugerindo que as células carregam uma "memória" do que foram. Se isso for mesmo verdade, uma célula da pele, mesmo depois de ser revertida ao estado de célula-tronco pluripoteme, ainda guardará a memória de que um dia foi pele e sua tendência será se diferenciar, de novo, em tecido da pele, e não em outro tecido qualquer, como acontece com as células-tronco embrionárias. É uma hipótese que precisamos estudar. Portanto, estou dizendo apenas que não vejo validade científica na tese central dos colegas de San Diego. Mas, de qualquer modo, a questão da rejeição ainda está um pouco longe. Não estamos prestes a usar células iPS em pacientes.
Em quanto tempo as células iPS poderão ser usadas em pacientes com a necessária segurança?
Quando estamos na última fase de um estudo clínico, é possível dar prazos. Na etapa atual, porém, falar em prazo é uma irresponsabilidade. Na verdade, ninguém sabe. As células-tronco de embriões humanos vêm sendo pesquisadas há uma década e meia, e só agora estão começando a ser testadas em pacientes. Existem dois estudos em curso. Um é da Geron, uma empresa da Califórnia. A Geron foi autorizada a testar uma terapia baseada em células-tronco embrionárias em pacientes com lesão medular. A outra empresa, a Advanced Cell Technology, recebeu autorização para testar um tratamento contra a degeneração macular, uma doença da retina que provoca a perda de visão. Depois desses anos todos de pesquisas esses são os primeiros testes em pacientes. Pode ser que o uso de células iPS em pacientes ocorra mais rapidamente, em função do conhecimento acumulado na biologia celular, mas pode ser que demore mais. Não sabemos.

2 comments:

  1. Maravilhosa esperança!
    Ao ler esse texto,na Veja e agora aqui no blog,senti como se a cura estivesse na próxima curva.
    Sei que não é assim tão simples nem tão fácil,mas acredito que chegará para nossa geração.
    Achei o blog está lindo e com ótimas informações.
    Parabéns.

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  2. Meu nome é Cristiane

    Tenho 38 anos e há dez anos sou parkinsoniana.
    A célula-tronco é a nossa grande esperança mas o que confio mesmo é no poder infinito de Deus.
    Parabéns pelo blog,pela linguagem fácil que vocês usam.
    Que Deus os abençõe.

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